“Adotar a economia circular como base para a estratégia de atuação, com o envolvimento entre diferentes áreas, a cadeia de fornecedores e institutos de pesquisa, é fundamental para expandirmos a criação de valor compartilhado nas linhas de negócio. Cenário que abriu a possibilidade de parceria com a Yvy Reciclagem e o Istituto Europeo di Design.”
A partir do recebimento de 1.500 a 2.000 cruzetas de postes por mês, o consultor de estratégia Fabio Seo, e o gerente industrial Vinicius Sparvoli, ambos da Yvy, enxergaram uma oportunidade: resgatar as cruzetas como matéria-prima e desenvolver o mercado de madeiras recicladas. E assim surgiu a parceria que uniu a economia circular ao design de mobiliário.
“A gente acreditava que essa madeira tinha um valor potencial muito maior do que o reconhecido no mercado hoje. Então procuramos o IED – Istituto Europeo di Design – justamente porque entendemos que o design poderia ser a resposta para melhorar a percepção de valor dessa matéria-prima. São madeiras envelhecidas, mas nobres. Madeiras de lei, que têm origem certificada.”
“A reciclagem não é só uma necessidade hoje, é uma condição. O modelo de economia circular e sustentabilidade tem que passar pela reciclagem para gerar novas matérias-primas a partir de materiais já existentes. E o design entra como aliado, com todo o conceito de ressignificação,”
Cruzamento de iniciativas
Foi aí que as histórias do Vinicius, do Fabio e do Christian Ullmann, coordenador de projetos no IED, se cruzaram. Christian, junto com o pessoal da Yvy, foi um dos idealizadores do projeto LAB MOB - Laboratório de Design de Mobiliário, Economia Circular e Empreendedorismo. A primeira ação foi elaborar um processo seletivo, divulgado na própria escola, para designers interessados em trabalhar esses resíduos. A resposta? Muito maior do que imaginavam.
“Quando o projeto LAB MOB foi lançado houve uma surpresa muito positiva”, conta Fabio. Segundo Christian, a ideia era terminar o projeto com 20 mobiliários, mas o interesse foi tão acima do esperado que o projeto terminou com o dobro do planejado, 40 mobiliários.
“Quando o designer pega uma cruzeta, ele não sabe que tipo de madeira é. Foi uma surpresa para todos que participaram descobrir esses materiais. Nenhum designer imagina trabalhar com madeiras velhas, rachadas, que não sabem a espécie, e ainda cheia de furos! Para quem já trabalhava com madeira, foi diferente de tudo o que já havia feito antes. ”
Capital paulista como inspiração
“Com a capital paulista como ponto de partida e com a missão de agregar conceito e significância histórica às peças que presenciaram toda história recente da cidade de São Paulo. Assim, a exposição Da Vinci Experience patrocinada pela ENEL reúne curiosamente a intenção criativa de dois mundos diferentes: O mundo renascentista de Leonardo e sua obra revolucionária, e o mundo da economia circular, do codesign e da colaboração projeto IED LAB MOB YVY para solução dos desafios complexos enfrentados para sustentabilidade das cidades contemporâneas, ambos fazendo uso da criatividade para aproximar as pessoas e resolver os problemas reais do seu tempo.”
Cada participante contribuiu para o projeto com sua própria interpretação para criar as peças. O designer Fernando Iász fala de sua poltrona Fase: “O nome veio de sucessivas mudanças, fases da eletricidade, do tempo e da vida, uma peça para área externa, para estar em paz com a natureza. ”
Os participantes também fizeram conexões de suas próprias histórias com a história da cidade. A designer Fabia Toqueti nomeou a luminária que criou com as coordenadas do local de seu nascimento. Já o designer Augusto Di Carpi inspirou-se no propósito de transmissão de energia da madeira e retornou ao início das transmissões de mensagens, por telégrafo, criando a Luminária Laite São Paulo.
Tendo a economia circular como ponto de partida para a criação do mobiliário, alunas, designers, arquitetos e makers também começaram a pensar no resíduo do próprio processo de construção do mobiliário do projeto, o que gerou a peça Cobogó de Ana Borba e Felipe Madeira, feita a partir de resíduos dos outros projetos com as cruzetas. Também com o pó da madeira e peças de cruzetas em estado mais deteriorado, foi criada a mesa de centro Cápsula, de Stefano Leggieri.
Produtos finais
Ano após ano, o nível de conscientização só aumenta, e a valorização de produtos feitos com respeito socioambiental também. Mas esse é um trabalho construído diariamente. Para Luiz Renault e Erica Pulizzi, da marcenaria compartilhada Fabriko, o manejo desses materiais abriu uma nova perspectiva criativa.
“Essa iniciativa faz com que tenhamos uma visão melhor do que realmente importa, direcionada para um mercado com fornecedores responsáveis, produzindo de forma sustentável. ”
O LAB MOB, realizado em parceria entre a Enel, a Yvy Reciclagem e o IED estão alinhadas aos compromissos que assumimos com a Agenda 2030 da ONU e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente ao ODS 12, que visa a assegurar padrões de produção e de consumo mais sustentáveis.
O projeto durou 10 meses e, durante esse tempo, aconteceram encontros onde foram apresentados conteúdos sobre economia circular, empreendedorismo e novos estilos de vida. Também tiveram reflexões sobre como as mudanças sociais influenciam no papel dos designers. Que além de se adaptar, devem provocar mudanças, influenciando suas próprias histórias.
A conclusão dessa história é um outro começo: nos conscientizar de que somos responsáveis pelos resíduos que geramos. A mudança começa com cada um de nós.