Natural de Parnaguá, uma cidade no Piauí a cerca de 600 quilômetros da capital do estado, Gilnete Lustosa desde cedo lutou por seu sustento em seu município natal. A cidade não era um local com grandes ofertas de trabalho, principalmente para sustentar sozinha os três filhos que teve muito jovem: o primeiro veio aos seus 19 anos, o segundo aos 21 e a caçula aos 23. Porém, Gilnete decidiu mudar sua história em 2006, ao sair de lá só com seus filhos, buscando melhores oportunidades de emprego: “Minha cidade é muito parada, não tem serviço. Depois que saí de lá, fiz muita coisa nessa vida: trabalhei em Mato Grosso como embaladora de carne em um frigorífico, depois passei sete anos em Brasília em uma empresa de alimentos classificando ovos até que em 2016 voltei ao Piauí para morar na cidade de Corrente”, conta.
Gilnete define que, desde a chegada, morar em Corrente é sinônimo de oportunidade, tanto para seus filhos quanto para ela. Após retomar os estudos, ela conseguiu completar o ensino médio – que havia interrompido para cuidar dos filhos – e também chegou a trabalhar em uma churrascaria e depois em um hotel lavando roupas.
Um dia, enquanto trabalhava, Gilnete ouviu um hóspede do hotel comentar algo que mudaria novamente sua trajetória: estava chegando à cidade um curso que iria capacitar a população local para trabalhar na construção da maior planta solar da América Latina, em São Gonçalo do Gurgueia, cidade vizinha ao município de Corrente. “Eu ouvi o comentário no hotel que iria ter o curso e coloquei meu nome. Aí no dia do curso, minha patroa me liberou e eu fui aprender. Lá, preenchi um currículo e entreguei porque eu queria uma oportunidade melhor. Eu tinha aquela fé que iriam me chamar”, lembra.
O curso fazia parte do Enel Compartilha Oportunidade, um projeto que leva capacitação profissional para comunidades próximas às obras da Enel Green Power e que está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 8 da ONU – Emprego Decente e Crescimento Econômico, Além de aproveitar a mão de obra local, a iniciativa também leva desenvolvimento socioeconômico para a região, deixando um legado após o fim da estruturação dos parques renováveis. No curso, Gilnete e mais 338 pessoas aprenderam sobre a planta solar, as etapas de construção, noções básicas de mecânica e como uma obra dessa magnitude – como será a de São Gonçalo do Gurgueia – vira uma realidade capaz de abastecer cerca de um milhão de pessoas com energia limpa: “entre várias coisas, ouvi muito sobre as montagens e instruções para mexer com a arrebitadeira, que é a ferramenta utilizada para montar o tracker – um dispositivo que movimenta os painéis fotovoltaicos para pegar mais luz solar”, relata.
Pouco tempo depois de finalizar o curso, a profissional recebeu a ligação que tanto queria: iria fazer parte da construção da planta solar da cidade vizinha. “Meus filhos ficaram muito felizes! Eu gosto muito do meu trabalho porque aqui é uma aprendizagem todo dia e é daqui que eu estou tirando o sustento deles. Sou muito grata. Ganhei conhecimento que eu nem imaginava”, conta Gilnete. A partir de então, sua rotina passou a se iniciar às 4h20 da manhã, quando se arruma para pegar o ônibus fretado rumo à planta solar. Ela chega ao local às 6h, toma um café reforçado para ganhar energia e em seguida começa o trabalho, aplicando todo o conhecimento aprendido na capacitação.
Além da dimensão da obra – que conta com mais de mil pessoas trabalhando, sendo 65% oriundas do Piauí –, outro detalhe que chamou bastante a atenção da profissional foi a valorização da segurança, um tópico reforçado diariamente: “você não trabalha sem seus equipamentos de proteção individual – protetor auricular, luvas, botas. Se a luva rasgar, você tem que parar até virem trocá-la. Aqui é bem seguro. De todos os lugares que eu trabalhei, aqui é mais reforçado ainda. Isso é importante para nossa vida”, descreve. Outro ponto relevante da planta solar de São Gonçalo do Gurgueia é a presença de muitas outras mulheres na construção do parque. Esse é um passo importante na busca da equidade de gênero que Gilnete entende e se orgulha: “Não existem diferenças entre homens e mulheres aqui porque nós todos somos capazes: os homens são capazes, as mulheres são capazes e é isso que a gente quer mostrar. Viemos aqui para trabalhar e para mostrar que a gente também é capaz”.
Para o futuro da profissional, a partir de agora se abrem muitas possibilidades, uma vez que a capacitação amplia a visão de mundo dos participantes, além de oferecer experiência prática para pessoas se tornarem especialistas em um mercado em crescimento constante no Brasil e no mundo, que é o das energias renováveis. Em outras palavras, não são só Gilnete e seus colegas de trabalho do Piauí que se desenvolvem profissionalmente. O ganho se transfere também para sua cidade, seu estado e o país. “Eu tenho um sentimento de gratidão: a Deus por me permitir estar aqui e à empresa por ter me dado essa oportunidade de mostrar o meu trabalho. Queria dizer que eu sou capaz. A gente é capaz de fazer isso tudo ganhar vida”, finaliza.