Conversar com quem está distante, assistir à TV, trabalhar, cozinhar, tomar um banho quente. Como seria viver sem nunca ter tido acesso à energia elétrica, que possibilita grande parte das ações do nosso dia a dia?
A comunidade quilombola Kalunga fica localizada no norte de Goiás em uma área de difícil acesso, a cerca de 500 quilômetros de Goiânia. De passado marcante – um refúgio de escravos por cerca de 300 anos, “descoberto” somente em 1982 – ela abriga centenas de moradores que nunca tiveram acesso à energia elétrica.
Ubirani Fernandes tem 36 anos e é um deles, nascido e criado no local. Todos os dias, costumava levantar cedo, cuidar da roça de subsistência – onde planta alimentos como mandioca, arroz, feijão, cana e abóbora. Voltava para casa para jantar e, em seguida, estava na hora de dormir: “a gente não podia jantar depois das 17h por causa da escuridão. Usávamos lamparina para iluminar a noite”, conta. Nilcene da Rosa, também moradora do povoado, complementa: “As coisas eram muito difíceis porque tudo funcionava na base do querosene. Aí quando o querosene acabava, a gente às vezes iluminava com palha para clarear. Visitas de vizinhos aconteciam só até escurecer. A gente não podia ter uma geladeira, ter um som, ter uma televisão e ter a claridade mesmo durante a noite”.
Um dia, a rotina dessas pessoas mudou: a energia elétrica chegou ao Quilombola Kalunga pela primeira vez. Por conta da novidade, a comunidade há alguns meses pôde realizar muitas outras atividades, usufruindo de todos os benefícios que a energia tem a oferecer.
Nilcene conta que, com a chegada da energia, sua vida ficou melhor porque agora tem mais tempo para fazer suas atividades, além de ter acesso à água gelada e armazenar alimentos: “Mudou totalmente o nosso povoado”, celebra. Quem também está animada com a novidade é Melcina dos Santos, também moradora de lá: “agora vai movimentar mais. Nunca pensei que a gente ia adquirir energia aqui e agora já temos até geladeira! Antes da energia, o que estragava, a gente jogava fora. A Enel trouxe felicidade. Até para dormir a gente dorme mais à vontade! Antes era escuro, a gente tinha um pouco de medo”.
São mais de duas mil novas ligações no local e centenas de famílias que serão beneficiadas por novas redes elétricas, algumas delas abastecidas por energia solar. Os moradores também ganharam geladeiras novas, uma iniciativa do projeto Enel Compartilha Eficiência, ampliando suas possibilidades de conforto e armazenamento de alimentos.
Mas engana-se quem pensa que a energia traz somente esses valores aos beneficiados. Romis dos Santos tem 32 anos e propriedade para falar do assunto: “Tive uma luta árdua de roça aqui, mas consegui me formar em Educação do Campo e hoje represento toda a comunidade na Associação Kalunga de Cavalcante. Posso dizer que a educação aqui é muito carente, defasada. Esse projeto proporciona mudança na vida das pessoas. Hoje, as crianças não precisam estudar mais com candeio movido a óleo. Elas podem ler um texto até a hora desejada. Também a área da agricultura teve muito benefício. Muita coisa era jogada fora porque não se tinha onde armazenar alimentos, e hoje temos geladeiras”.
A dificuldade de acesso à comunidade é um verdadeiro desafio logístico, já que nem mesmo carros conseguem chegar em algumas localidades. Por isso, o fato de a energia ter chegado lá espantou bastante Bertolino Moreira, outro simpático morador da comunidade beneficiado pelo projeto: “Nós não tínhamos esperança dessa energia estar aqui. Fiquei pensando como a Enel chegou aqui porque não tem estrada. Até achei que iam chegar de helicóptero com essas geladeiras. É muita boa vontade e coragem. Agora só bebo água gelada!”, brinca.
Na região já foram construídos mais de 200 quilômetros de redes de média tensão, viabilizando a conexão de mais de 400 novos clientes à rede elétrica. “A comunidade está muito feliz por receber esse progresso. A base agora está aqui e ela se chama educação e energia. Espero que o futuro seja vibrante, com vitórias. Essa era a maior coisa que a gente sonhava”, finaliza Romis.