A história de Nilceia Gonçalves começa lá atrás, como ela mesma define: sua mãe era costureira e seu pai reformava bicicletas. Por conta dessa influência dos dois lados da família, o dia a dia da menina foi cercado de trabalhos artesanais, e Nilceia começou a gostar cada vez mais desse ramo: “eu via minha mãe mexendo na máquina de costura. Ela não deixava mexer, mas eu, de curiosa, tentava imitar na mão”.
Embora gostasse dos trabalhos manuais, Nilceia formou-se como professora e iniciou sua carreira trabalhando em uma gráfica, como caixa. No trabalho, porém, começou a notar algo que a incomodava: “eu via muito desperdício de papel, muito desperdício de espiral lá na gráfica, não via sustentabilidade”. Nilceia teve a ideia, então, de usar aqueles restinhos para inventar novos produtos, como bloquinhos de papel.
Começou, então, a receber muitos elogios e pedidos dos clientes por seus artesanatos, até que chegou o dia em que passou a receber mais renda pela sua arte do que por seu trabalho na gráfica. Ela não parou mais. Hoje, Nilceia faz parte de um grupo de quatro artesãs de São Gonçalo (Rio de Janeiro) chamado As Déboras – nome escolhido por significar “mulheres guerreiras”. “Estamos lutando para conseguir crescer juntas, e constantemente nos superando. Em cada peça que eu faço, eu tento me superar. Sempre criamos coisas novas para valorizar mais o nosso trabalho”, conta Nilceia.
As artesãs trabalham sob o conceito da economia circular, onde bolsas, carteiras, nécessaires e capas de cadernos são produzidos a partir de retalhos de lona, de banners ou de uniformes das equipes operacionais da Enel que seriam descartados. Materiais como fios de cobre, isoladores e até cruzetas da rede elétrica também viram acessórios como brincos e colares.
A iniciativa faz parte do Enel Compartilha Empreendedorismo, um programa que dá suporte às comunidades em que atuamos por meio do incentivo à formação de redes e associações produtivas comunitárias, apoiando os participantes na qualificação de seus produtos, na criação de canais de venda, na gestão comercial, no possível aporte de estrutura e insumos, sem esquecer das questões relacionadas ao meio ambiente e à cidadania. Isso tudo combinado possibilita a prosperidade socioeconômica da população.
Novas perspectivas onde não existiam opções
Além das Déboras, o empreendedorismo também tem sido visto em outros locais como uma forma de desenvolvimento, crescimento econômico e de geração de renda. O incentivo por essa formação empreendedora fortalece conexões, gera potencial competitivo, cria soluções para os desafios da comunidade e, inclusive, empodera pessoas. É o caso do grupo produtivo Arte e Costura, que reúne 15 profissionais em Fortaleza – Ceará.
Eliene Bezerra e Edineuza Costa são duas das artesãs desse grupo. Em comum, têm um passado parecido, de grandes desafios: elas viviam relacionamentos abusivos, casadas com homens que as impediam de trabalhar, estudar ou achar qualquer fonte de renda. “Eu não tinha uma expectativa de vida antigamente. Eu vivia dependente do meu ex-marido, era muito humilhada, não tinha dinheiro para pagar nada. Meu ex-marido ficava nessa pressão pra eu ficar dependente dele”, conta Eliene. Porém, depois que entrou no grupo produtivo, a artesã passou a enxergar outras perspectivas: “comecei a ver que eu podia. Eu não precisava de ninguém, vi que era capaz. Aqui eu fui encontrando outras pessoas com esses ideais. Somos mulheres fortes, que podemos vencer. Hoje eu ando de cabeça erguida e quero ser uma grande empresária no futuro”, celebra.
O projeto também deu uma guinada após o início da parceria via Enel Compartilha Empreendedorismo. Edineuza descreve que isso traduziu-se em novas perspectivas para as componentes do grupo: “a Enel está abrindo a oportunidade de a gente expor nosso trabalho em locais que antes a gente não conseguia ir, como o Dragão Fashion, o maior evento de moda autoral da América Latina, que acontece no Ceará anualmente”.
Além da geração de renda, os grupos produtivos também se tornam um suporte emocional às pessoas que participam, enxergando novas possibilidades onde antes não viam. Lucia Helena da Silva, também do Arte e Costura, define que esse é o maior trunfo do grupo para ela: “aqui eu ganho abraço, aqui eu ganho um beijo, aqui eu ganho amor. Eu não tenho isso em casa. Eu fui agraciada por Deus com um dom e eu quero dividir isso com as pessoas. Isso vai me fazer cada vez mais feliz. Graças a Deus, agora eu sou uma artesã”, conta emocionada.
Empreendedorismo para gerar empoderamento
O fator econômico contribui para que a mulher envolvida em um grupo produtivo possa se empoderar e, inclusive, quebrar correntes de violência, sejam físicas, sexuais, econômicas ou psicológicas. O grupo produtivo Mulheres do Salgueiro tem esse tópico como objetivo principal. A iniciativa fica na comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo (Rio de Janeiro).
Janete Guilherme, uma das componentes do grupo, conta que a comunidade se caracteriza por muita violência, e sabe bem o real propósito da associação: “a gente está em um território que é muito tenso. Trabalhar as questões psicológicas disso tem sido um fator importante, além de gerar renda coletivamente – um intuito que não é o principal, mas sim consequência desse trabalho. O principal é que a mulher seja empoderada, que ela se torne protagonista da sua história, que ela determine o que quer na vida. Gerar renda coletivamente pode também agregar para que essas mulheres entendam que, coletivamente, a gente é mais forte. Isso tem sido o grande significado disso tudo”.
De 2015 a 2018, a renda gerada pelos grupos produtivos foi de R$ 2,7 milhões, beneficiando mais de 6,5 mil pessoas diretamente. Em 2019, o Enel Compartilha Empreendedorismo foi o vencedor do Prêmio ODS Pacto Global [LCTDM,E1] da ONU na categoria Prosperidade. Esse é um caminho que contribui para valorizarmos a cidadania e construirmos uma sociedade mais justa, inclusiva e cíclica. Somente assim será possível enfrentar os grandes desafios socioeconômicos do nosso país e obter soluções que melhorem a qualidade de vida das pessoas, promovendo, assim, o bem-estar coletivo e maior consciência sobre o tema do desenvolvimento sustentável.